Não me contento com muito na vida, não sou do tipo que faz listas e corre atrás como meta, nem do tipo que grita ao vento o seu amor. Por mais que queira dançar na madrugada sob a luz da lua olhando nos teus olhos e te sentindo tão de perto, está bom assim como está. E não é uma forma de me contentar com pouco, mas uma forma madura de te afirmar que eu sou fascinada pelo teu jeito direto, carrancudo e muitas vezes grosso de ser. Não vejo isso como algo ruim, só não quero lapidar uma pedra bruta com medo de perder aquela beleza toda.
A terra nos dá a vida e nos permite encontrar e desfrutar das suas riquezas que muitas vezes não damos o devido valor. Eu não quero perder a chance de te admirar. Você é a minha natureza pura, na sua simplicidade. Vou me deitar ao teu lado como quem assiste ao céu. E por mais que eu ainda queira ficar acordada o tempo inteiro para te admirar, está bom assim. Com sonhos tão realistas, com desejos tão ilustrados e com vontades me mostrando o quanto ainda temos muito o que viver.
Mas o mundo é tão cruel. Te tira aquilo que você mais ama, mais deseja, mais luta para que dê certo, que se realize…
No dia em que a escuridão tomou conta de mim e os sonhos já não eram mais tão bons, a floresta já pegava fogo e a madrugada estava nebulosa recheada de monstros, eu, perdida, chorava desejando não existir mais. Segurei na mão da morte por alguns segundos e então lembrei do brilho dos teus olhos. No dia em que a morte aproximou sua foice do meu pescoço, eu lembrei do toque dos teus dedos nos meus lábios e me enchi de sede. Uma sede de vida. Porque do teu lado eu vivia e agora, com a morte tão próxima, eu já não enxergava mais solução para me reencontrar.
Enquanto a foice começava a roubar gotas do meu braço, e teus olhos me eram vivos, me apossei da coragem. Fugi da morte, sem olhar para trás, sem parar pra pensar. Fugi e foi por forças muito maiores às que conhecemos. Corri como um guepardo, como um pobre cervo que foge do leão faminto. Não olhei para trás para não me entregar à morte novamente. E quando as pernas já estavam cansadas, tua mão me salvou. Foi a mão do apoio, da fé. Da força.
Podemos apenas tentar? Digo, eu não quero me entregar novamente à morte, mas também não quero ser covarde a ponto de errar por orgulho com você. Nem reconstruir aquela casa na areia novamente. Quero iniciar meus trabalhos no terreno certo, sendo cuidadosa com o tubulão, com as vigas, com o concreto, o cimento… não quero erguer muralhas, quero que a liberdade seja o nosso ponto de partida. Que nosso espaço seja respeitado para que quando unidos se fortaleçam.
Porque por mais que eu queria dançar todas as noites sob a luz da lua, por mais que eu queria sentir que ainda me olha partir, está bom assim. Meu amor, está bom assim. Calmo e reconstruindo. Está bom assim, sendo aos poucos cada tijolo da nossa vida. Está bom assim, com a sua mão na minha, com seus olhos nos meus, com meu riso sendo todo teu… esse amor está mais que bom assim.
Seus textos ultimamente têm um viés um tanto quanto enigmático rsrs. Você com certeza conhece os versos de Fernando Pessoa: “O poeta é um fingidor, Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor, A dor que deveras sente.”
Se não te conhecesse, diria que a você se aplica o primeiro verso: o poeta é um fingidor. Mas acho quer o último é mais apropriado: a dor que deveras sente.
Pensando bem, deixemos de lado as definições. São prisões inúteis que usamos para aliviar nossa ansiedade diante do que nem sempre compreendemos. Você é você e vice-versa.
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Pessoa é um grande entre meus escritores/poetas preferidos. Acredito que um autor precisa ser muito antes um ator, é mais que coincidência serem palavras tão próximas. Ao passo em que o autor cria a estória, sua parte dramatúrgica dá verdade às palavras. E se um texto se autoexplica a todo momento não há espaço para que o leitor (figura muito mais importante) crie o resto da estória. Logo, fingir é mais que importante para que a mentira tão bem contada se torne verdade.
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