– Eu quero tanto que ele faça parte da minha vida, quer dizer, sou louca por ele e sei que me corresponde! O que ta faltando?
Débora sempre fora neurótica quando se trata de relacionamentos. Não sabe o que fazer, nem dizer e muito menos pensar. A cada namorado novo ela acha que não vai dar certo novamente e nem percebe a boa oportunidade de mudar e fazer algo realmente gratificante numa vida a dois.
– Ele transmite que quer algo sério e duradouro, mas nem me beija direito! Eu sinto falta disso às vezes.
– Debby, sabemos que um relacionamento precisa ser uma via de mão dupla com semáforos! Talvez ele saiba a hora de parar e só esteja com medo de levar uma multa.
Ela riu com tristeza nos olhos.
– Eu sei, Ricardo, mas como posso ter um relacionamento sem o tempero?
– Tempero? Essa é nova.
– Claro! A comida precisa estar no ponto! Nem insossa e nem salgada. Apenas no ponto.
– E o ponto certo de um relacionamento seria?
Ela levantou as sobrancelhas e me encarou se preparando para uma defesa de tese cientifica com base em pesquisas à estatísticas do IBGE.
– Sabemos que um relacionamento é algo que se constrói a partir de uma amizade e que se fortalece a medida que ambos convivem e se conhecem além das aparências.
– Aparências essas que sempre fazem tudo desandar…
– Sim e não! Amigo, se o relacionamento já está sem tempero e as aparências eram falsas então desanda mesmo.
– Realmente! Um compromisso sem pegada é sem graça.
Fiquei feliz por vê-lá gargalhar.
– Não precisa ter aquele exagero de pegada, porque o beijo sempre fala a sua intenção real.
– Intenção real?
– Se for um beijo leve e com carinho é lógico que é apenas um beijo com amor.
Suspirei.
– Adoro esse tipo de beijo!
– Eu também! – ela fez um gesto meigo com as mãos – tem aquele beijo que vai fazendo o fôlego sumir, e as mãos já trocam carinhos por firmeza, seja puxando o cabelo ou a nuca pro beijo ficar mais intenso.
– Esse com certeza é meu preferido!
– Ha! Safadinho!
Rimos mais um pouco.
– E tem o selinho também né?
– Ahhhh! Não gosto! É “beijo” de cumprimento.
– Sim. É apenas um oi e tchau entre amantes. Acabou. Nada mais. Vazio e sem graça. Aliás, selinho é coisa de foto com vó!
Rimos a ponto de eu engasgar, o que nos fez rir mais.
– E tem algum outro?
– O beijo do sexo!
– Hmmmmmm, e esse não seria igual ao sem fôlego?
Ela levantou o olhar e ficou incrivelmente sexy.
– Não, meu bem! Ele envolve o corpo. Principalmente as pernas e as mãos. Genitais mais próximos… enfim, sabe o que quero dizer.
Me surpreendi com tamanho conhecimento, afinal Débora sempre foi como uma irmã.
– E o que isso tem a ver com esse novo cara?
– Ele não me beija. Só quando bebe muito! Fora isso, apenas selinho.
– Sempre selinho?
Ela abaixou a cabeça.
– Eu sei que ele não é gay porque conversamos abertamente sobre tudo. Então não é por ele não curtir.
– E onde isso te aflige?
– Ah. Toda mulher quer se sentir desejada, da melhor forma possível! E pra isso não precisa sair apalpando a gente… só ter algumas atitudes.
– Mulheres são complicadas.
Falei deitando em seu colo e recebendo seus carinhos.
– Mulheres são simples. Faça uma se sentir especial, amada e protegida que tudo se resolve. Mas é claro que esses carinhos e atitudes são importantes, e não me refiro somente a beijos!
Nesse momento eu só queria poder beijá-la.