Em algum momento do dia eu senti medo. Um vazio tão grande que me consumia e fazia tremer o corpo todo. Medo, pavor, terror… ansiedade. Eu não sei porque senti isso, nem por quanto tempo. Não fiz nada diferente da rotina e nem esforço maior. Tudo estava normal.
Então me perdi no medo e não conseguia mais voltar, me engoliu, me derrotou. Fiquei tão fraca que não conseguia me ajudar e o tempo parecia durar uma eternidade, como dias de solstícios. Lembro de quando diziam, naquela série, sobre o inverno chegar… não acreditavam até que chegou e então se instalou por tempo indeterminado. Bom, minha dor é esse inverno. Eu sabia que chegaria, esse dia chegaria, porque faz parte da vivência humana. Mas eu não sabia que duraria tanto tempo.
Foi então que me acostumei nessa treva e me isolei de todo o resto. A dor era bem vinda, agora, já que eu não conseguia me libertar dela.
Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.
Platão
Passei a ter medo da luz e da paz que não me recordava mais como era. Minha solidão se tornou confortável e ali desejei ficar eternamente, calada, cálida, imóvel, fria.
Mas cruzei um olhar com ele que carregava a mesma dor que eu, e pude sentir que não estava só. Um consolo me preencheu, me inundou.
A solidão já tinha florido em mim, já estava condicionada a me sentir assim, já tinha raiz. Mas mesmo aquilo que está encravado no nosso peito, como a conformidade da dor, pode ser arrancado e queimado. O joio e o trigo podem ser separados sim, se houver cuidado e paciência, por quê minha dor não seria?
O olhar de compreensão mudou minha forma de encarar a vida, a caridade me tocou a alma! Tive cuidado e paciência para lidar com cada espinho do meu roseiral. Aquele toque leve, suave, delicado, mas pontual mudou tudo.
Consegui olhar para a dor com amor, jamais havia passado pela minha mente ser possível! Parecia loucura… mas como dito em uma de suas cartas, Paulo já dava um certo spoiler: a loucura do homem é sabedoria de Deus.